Eu preciso escrever. Me desculpem todas as pessoas que
utilizam outras formas para desabafar. Sinto muito, mas eu preciso escrever. Eu
preciso que meus dedos angustiados traduzam meus sentimentos conflitantes em
sentenças confusas. Eu preciso escrever.
Não sei ao certo o que estou sentindo, nem sei ao certo por
que é que a escrita me ajudaria. Tão pouco sei o motivo que me levou a sentar
no chão de frente para o espelho, meu vestido listrado e colorido não impediu o
contato da minha pele com o chão refrescante. Não sei se é necessário saber o
porquê fitei-me por longos minutos no espelho, reparando nos detalhes da minha
face e do meu cabelo. O importante é que eu chorei.
Eu preciso escrever. Santo amado, tenho que escrever uma
redação de três páginas e nem sei por onde começar. Vamos mente, trabalhe! Você
tem que funcionar! Não, eu! Não, nós! Nós precisamos escrever. Espere. Mas o que
faz eu olhando a imagem de uma jovem, de cabelos negros, sentada e com lágrimas
a rolar o rosto? Pensei na minha vida, nos amores, na falta de certas coisas...
na verdade pensei na falta de amores na minha vida. Dos que já partiram e dos
que nunca vão entrar.
Pensei em como o que temíamos anos atrás agora não é nada
menos que uma ervilha em meio ao caos nosso de cada dia. Pensei em mim, nos
outros, em mim com os outros, em mim sem os outros e nos outros sem mim. Rebobinei
a fita das memórias de infância. E me deixei levar. Pensei em tantas coisas que
desisti de pensar e despensei. Eu preciso escrever. Preciso da escrita,
infinitamente muito mais do que ela precisa de mim. Preciso da literatura e
preciso de um leitor. Eu preciso ser o leitor de mim.
Alerta: Redação de três páginas e o prazo está acabando! Se
mexa.
Me mexi. Levantei-me do chão frio. Limpei a cara com as
mãos. Fui ver a impressora. Estava desligada e seus tanques de tinta completos,
isso não me impediu de pegar a garrafinha de tinta já pura e forçar dela mais
tinta para o tanque. Fracasso. Sujei minha mão, e continuo triste ou confusa. Talvez
seja alguém tentando forçar algo que não mais exista, talvez seja eu uma esponja
de sentimentos alheios, que me adapto ao personagem e o sofrimento da vez,
talvez não seja nada.
Por que ainda sou legal? Com certeza é por causa das manchas
de tinta preta em minhas mãos. C-O-N-F-U-S-O-S!
Por que sou tão perdida do mundo. Correção: do meu mundo. Eu preciso
escrever, mas não sei o que. Você precisa fazer o que? Escrever, caramba! E o
que está fazendo agora? Não está escrevendo? Não! Não estou escrevendo, não
estou pensando, não estou me mexendo. Estou lendo. E lendo. E lendo. E relendo.
Lendo a confusão da minha mente tagarela em forma de letras em uma construção totalmente
afogada em devaneios platônicos.
Chega! Tenho que tomar a frente, parar de abaixar a cabeça.
Eu tenho que me impor. Quando eu vou fazer isso? Não sei, estou ocupada agora.
Com o quê? Eu já disse, eu preciso escrever, pois escrever é precioso e minha
alma precisa. Eu preciso escrever.
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