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Vigiar e punir: Nascimento da prisão

 

    Feliz natal bonde, isso facilita minha vida já que não tenho que desejar bom dia pra vocês.

    Acharam que eu tinha morrido? Acertaram, morri mesmo, estou ocupado trabalhando e estudando e esqueci-me da existência de vocês. Mas como um bom humano e de bem, vou vir aqui defender a posse de armas e ir contra a ciência e vacina, não tomem! Tá parou a brincadeira e vou falar a real. Quero a vacina o mais rápido possível, hoje venho falar sobre um livro, Vigiar e Punir o Nascimento da Prisão de Michel Foucault. Acho que já falei dele aqui, mas o reli e decidi falar mais um pouco e comparar com a sociedade hoje.

    Vocês já pensaram como o mundo mudou do século XVIII até o século XXI? No século XVIII os crimes eram punidos com grandes espetáculos, os famosos suplícios, leia-se, tortura em publico. Os suplícios tinham o objetivo de punir o corpo e esse medo ser transpassado para o publico que o assistia, o medo controlava a população e assim tinha-se a ideia de que o medo iria suprimir o desejo de cometer o crime. Não se esqueçam de que no século XVIII os governos eram monarquias e cometer um crime era cometer um crime contra o Rei que tinha poder divino. A punição variava de acordo com o humor do rei, caso você tivesse roubado uma maçã vocês poderia ser apenas preso ou dependendo do humor do rei sua pena poderia ser a amputação de um membro. Tudo de acordo com o que o rei queria e a leira era pessoal, cometer um crime contra o rei era um crime contra Deus já que o próprio rei tinha poderes divinos.

    Claro que ao decorrer dos séculos as leis mudaram, pensamento iluministas vieram a tona e os reis foram depostos, principalmente na França com a Revolução francesa e a mais nova invenção a Guilhotina e nisso os suplícios e punições mudaram. Deixaram de ser grandes eventos com torturas para algo mais frio e seco, “apenas” cabeças cortadas com um carrasco que puxava a corda e em apenas um momento o fim do criminoso. A partir daí vieram mudanças, criaram-se leis frias que podiam punir determinadas infrações com regras gerais e não mais a gosto do governante. Foucault teve mais uma ideia, a coerção através do “adestramento”, através de regras e conduções das pessoas. O crime agora de certa forma leva em conta a estrutura social do individuo, onde as penas mais graves deveriam ser aplicadas ao individuo com melhor colocação social já que esta pessoa teve melhores oportunidades em relação ao individuo menos abastado. O crime de um nobre é mais nocivo a sociedade que o crime de um plebeu que não possui riquezas.

    Falando sobre coerção podemos lembrar-nos das escolas, dos militares e até mesmo o trabalho, onde a coerção é para que os corpos realizem as tarefas com o menor esforço com a maior eficiência. Lembre-se somos vigiados e isso também é uma forma de coerção social, a função da coerção é limitar os atos das pessoas seja para evitar possíveis crimes ou para suprimir pensamentos, a coerção tem esses dois lados sejam positivos ou negativos. A disciplina tem a função de igualizar as pessoas seja nas prisões ou nas escolas, talvez essa seja maior semelhança entre a escola e a prisão. Talvez os alunos escolares estejam certos em falar que a escola é uma prisão. Ambos são vigiados tanto por professores, diretores, monitores, sempre vigiados e instruídos a realizar tarefas de forma a serem “adestrados” e seguirem o ritmo que lhes é imposto, ou seja, tornar os corpos dóceis. O corpo dócil é aquele que realiza os comandos e também se limita a fazer o que é necessário sem passar pelo limite social que é imposto. Todos os corpos tendem a ser domesticados de alguma forma seja pela escola, ou seja, pelo poder carcerário, ou pelo poder militar.

    Caso seu corpo não seja domesticado pela escola, ele será domesticado pela prisão através da punição, no século XVIII era pelos suplícios e agora no século XIX é através de punições não no corpo mas, na alma ou na racionalidade onde não existe showplício mas, a ideia da punição as pessoas temem apenas de imaginar a punição que o criminoso irá sofrer, vigias constantes, restrição do corpo. Essa punição é mais que o suficiente para suprimir o desejo das pessoas para cometerem algum crime, ou pelo menos grande parte deles.

    Agora vamos ao século XXI, hoje temos o atual sistema carcerário, tem enormes falhas em um país como o Brasil, historicamente racista, preconceituoso, xenofóbico e de certa forma criminoso. Talvez o livro de Foucault não seja aplicável ao Brasil, entretanto já pensou que em pleno século XXI estamos em um a crescente do autoritarismo? Irei ler o livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, Como As Democracias Morrem e irei dar um maior respaldo sobre esse movimento. Enquanto isso faça um exercício de imaginação, se tivéssemos a opção de voltar aos suplícios ou manter o sistema de leis usado hoje, quantas pessoas iriam desejar a volta de torturas públicas?

     Pensamentos assim poderiam ser facilmente explicados com a sensação de impunidade que o país sofre e assim os cidadãos como sinal de insatisfação e protestos desejariam a volta dos suplícios. Claro que todo o tipo de coerção do corpo é de alguma forma lucrativa. Os jornais lucram ao garantir a sensação de impunidade e assim exaltar esse desejo de “quebra” dessa injustiça que poderia ser feita através da volta de suplícios. Isso gera um lucro expressivo aos investidores, em resumo a insurreição popular gera lucro.

    Claramente não é possível ainda dizer que o motivo do ódio da população seja realmente a sensação de impunidade, com toda certeza o suplício ainda não seria uma possibilidade, talvez esse ódio esteja intrínseco ao brasileiro. Talvez as pessoas possam deixar este lado sádico e psicopata que busca apenas a satisfação momentânea da sensação de justiça algo que pode ser comparado a babilônia e o Rei Hamurabi e sua lei de mesmo nome onde era olho por olho e dente por dente. Essa sensação momentânea do mesmo jeito que pode cair em um “inimigo” pode cair em cima de você ao gosto de seu líder ou ditador, fica ao gosto do freguês.

 

#VacinaAgora

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