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GRUPOS FINANCEIROS NÃO ENTRAM EM CRISE, JÁ AS PESSOAS SIM.

Boa noite a todos, hoje mais um dia pandêmico em que ficar em casa é a recomendação decidi manter no mínimo a cabeça funcional e comecei a ler, começou com “Do Contrato Social de Rousseau” e hoje estou lendo “A Era do Capital Improdutivo de Dowbor” um livro recomendado por um amigo Júnio Cruz e pelo meu Professor Márcio Rosa. O livro em questão é muito interessante e digo que não é para qualquer um, a linguagem é clara, mas bastante referenciada e com termos em inglês (que são explicados no glossário e que poucos ousam consultar) te força a pensar e reler a mesma página algumas vezes. O tema é bem parecido com o que o Economista Eduardo Moreira defende em seu livro “Desigualdade & Caminhos Para Uma Sociedade Mais Justa” onde ele conta o caminho do dinheiro desde os primórdios e como a propriedade privada acabou com a liberdade e igualdade das pessoas. Rousseau iria ficar orgulhoso de saber que a sociedade conseguiu cavar um buraco ainda mais fundo em que os pobres ficam mais pobres e os ricos cada vez mais ricos e que o contrato social é usado para manter essa hierarquia milenar de manda quem pode e obedece quem tem juízo.
Em seu livro Dowbor expõe como o mundo é governado por pequenos grupos financeiros e baseia seus dados em pesquisas feitas pelo ETH (Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica), Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos Estados Unidos, Universidade de Oxford dentre outras. Podemos ver que os grupos mais poderosos economicamente controlam grupos menores que vão controlando outros grupos em um tipo de rede que o dono do maior grupo na prática não tem contato algum com o grupo menor e no máximo recebe apenas o lucro e só, em português claro é um esquema de pirâmide que no final o prejudicado é a última camada do processo que no caso são as pessoas. Ele usou como exemplo o caso da SAMARCO em Minas Gerais da qual a empresa em teoria se auto regulamentava e vistoriava visando a saúde e segurança de todos e no fim tivemos a tragédia, porém nenhum dos investidores de fato terá algum julgamento já que teoricamente sequer sabiam o que estava acontecendo com a empresa e nem se importavam pois querem apenas o dinheiro que eles investiram retornando para eles. Existe uma máxima no liberalismo para casos assim que é punir os culpados e manter a empresa viva, os culpados são os gestores da SMARCO, mesmo que possamos atribuir parte da culpa aos investidores pois como eles fazem parte da empresa e jogaram seu dinheiro nela, basicamente assumem que estão de acordo com a política da empresa e dessa forma reconhecem os riscos e por isso também devem participar das punições. Para eles a vida dos moradores de Mariana é indiferente, são números e os engenheiros presos podem ser substituídos, já o lucro tem que ser entregue de qualquer forma, os danos causados podem ser contornados com um reposicionamento de marketing e os processos ficam por conta de advogados. Concordo com a máxima de não exterminar a empresa e Dowbor mostra que ele também não quer acabar com empresas já que elas mesmo em seus defeitos e incompetências ainda geram empregos e fazem a dinamização da economia, entretanto a indiferença quanto aos investidores é irracional.
Outro ponto levantado por Dowbor é algo que o Eduardo Moreira também menciona em seu livro, a aplicação improdutiva ou em resumo a aplicação em dívida pública, o endividamento do país que usa o dinheiro dos impostos para pagar uma dívida criada com instituições financeiras privadas (em geral bancos dos quais o país sabe sequer quem são). Esse endividamento funciona da seguinte forma: o Brasil emite títulos públicos para arrecadar dinheiro de pessoas físicas ou jurídicas e esse dinheiro é usado para obras públicas, educação, saúde, segurança e outras coisas, no fim esse dinheiro tem que ser pago com correção de juros e como esse dinheiro é usado de diversas formas uma delas é o pagamento de dívidas adquiridas pelo governo com os mesmos bancos privados que estão dando o dinheiro para isso e no fim os bancos recebem o pagamento do juros da dívida e também recebem pelo “investimento” no título público ou seja só vitória (para o banco). A população então fica sem investimento nas áreas em que ela necessita de melhorias e com isso fica cada vez mais difícil uma qualidade de vida e melhores condições de emprego assim gerando dívidas pessoais impossíveis de serem pagas e gerando inadimplentes e os cartões geram cada vez mais juros impossibilitando a ascensão financeira da sociedade.
A desigualdade gerada por esse sistema trava a dinâmica de mercado já que esse tipo de transferência de riquezas aniquila os que tem pouco e fortalece os que tem muito e quando uma pessoa não pode comprar o mercado não cria nada e fica estagnado com poucos ostentando muito e muitos com nada. Os grupos financeiros por mais que sejam poucos em quantidade, eles têm capital o suficiente para influenciar os governos como se fossem a própria população e assim manter seus privilégios mesmo em tempo de pandemia. Lembrem-se que a primeira medida do governo brasileiro foi blindar os bancos contra possíveis falências com a “PEC do Orçamento de Guerra” (PEC 10/2020) em que permite o Banco Central comprar crédito de bancos privados para financiar o combate ao coronavírus, porém tal medida é um banquete para vendas de crédito sem nenhuma supervisão é quase comprar as escuras.
A ideia principal é mostrar que as instituições financeiras agem de maneira coordenada a ponto de sempre se saírem bem mesmo em momentos de crise, esse grupo seleto e privado age de maneira a ganhar sempre e manter o status de superioridade assim como Rousseau dizia, o sistema atual serve como transferidor de riquezas de pobres para ricos aumentando a desigualdade e dificultando as condições de vida.
Bibliografia:
DO CONTRATO SOCIAL – JEAN-JAQUES ROUSSEAU.
DESIGUALDADE & CAMINHOS PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA – EDUARDO MOREIRA.
A ERA DO CAPITAL IMPRODUTIVO – LADISLAU DOWBOR.

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